dúvida do leitor
A leitora Jacqueline Raulino envia a seguinte indagação ao Gramatigalhas:
“Estou em dúvida com a seguinte frase: ‘antes de me manifestar’ ou ‘antes de manifestar-me’. Qual é a forma correta? Atenciosamente.”
1) Uma leitora indaga qual a frase correta quanto à colocação do pronome: “Antes de me manifestar” ou “Antes de manifestar-me“?
2) Ora, a expressão antes de é uma locução prepositiva (vale dizer, duas ou mais palavras que funcionam como preposição), de modo que a pergunta da leitora busca saber se a preposição é uma daquelas palavras que atraem ou não para antes do verbo o pronome pessoal oblíquo átono.
3) Observada a circunstância de que o verbo do exemplo está no infinitivo, traz-se para análise, por primeiro, o ensino de Cândido de Figueiredo, segundo o qual “as preposições pertencem à categoria das partículas que influem geralmente na colocação dos pronomes pessoais atônicos, atraindo-os”.
4) Exemplos colhidos pelo referido autor em abalizados escritores de nosso idioma, entretanto, revelam que a colocação do pronome, nesses casos – contrariamente a sua própria lição – é facultativa (ora antes do verbo, ora depois dele). Exs.: a) “Até chegou a me dar casa…” (Machado de Assis); b) “… obriga o procurador a respeitar-lhe as cláusulas” (Rui Barbosa); c) “… era bastante para sacudir-me da Tijuca” (Machado de Assis); d) “Chamou-me um escravo para me servir o doce” (Machado de Assis); e) “Ficou Maria Henriqueta livre por se ver livre do suborno da mãe” (Camilo Castelo Branco); f) “Senhor, morro por unir-me convosco” (Padre Manuel Bernardes); g) “Gastei pouco tempo em dizer-lhe…” (Machado de Assis); h) “… não faltaria Deus em lhe dar um bom dia” (Padre Antônio Vieira).
5) Eduardo Carlos Pereira, por sua vez, observa que, “junto aos infinitivos puros, em geral, e aos regidos da preposição a”, a regra de posicionamento do pronome oblíquo átono é a ênclise (pronome após o verbo): a) “Foi bom dizer-lhe toda a verdade” (infinitivo puro); b) “Ele estava acostumado a sofrê-la todos os dias” (infinitivo regido pela preposição a).
6) Justifica tal gramático que tal generalização da ênclise se deu pela “necessidade de evitar o hiato, provocado às vezes pela próclise”, como, por exemplo, em “acostumado a a sofrer” (por acostumado a sofrê-la).
7) Resumindo o que antes se expôs, de modo específico para a dúvida trazida pela leitora, a conclusão que se pode extrair é a de que, com o infinitivo preposicionado, o pronome pessoal oblíquo átono pode vir, indiferentemente, antes ou depois do verbo. Exs.: a) “Antes de me manifestar, quero respirar um pouco” (correto); b) “Antes de manifestar-me, quero respirar um pouco” (correto).Originalmente postado em: Migalhas.